domingo, 19 de julho de 2009

OS PERIGOS DAS DROGAS ANABOLISANTES

O lado sombrio da força
Do JC

Hildo pagou caro pelo uso de bombas. O ex-judoca, que queria turbinar o corpo e melhorar sua performance nas lutas, acabou ficando com uma mama flácida .
Um novo problema de saúde pública se desenha no País. Para moldar o corpo, ganhar força, resistência e velocidade, milhares de pessoas, entre atletas e malhadores, estão recorrendo aos esteroides anabolizantes sem considerar que uma superdosagem pode gerar graves danos, como o câncer. As bombas já lideram a lista de drogas com maior crescimento de consumo, superando maconha, cocaína e crack, segundo pesquisa divulgada em março passado pelo Cebrid, órgão ligado à Universidade Federal de São Paulo. O estudo, de 2005, mostra que 1,2 milhão de brasileiros admite usá-las. Número que já não reflete mais a atualidade, diante da facilidade de acesso às drogas – é quase tão simples como adquirir aspirinas. A série Bombardeio ao Corpo, de Alexandre Arditti e Marcelo Sá
Barreto, com fotos de Marcos Michael, trata da ânsia dos consumidores, da facilidade de compra, da rota do contrabando, das falhas da legislação e das polícias para reprimir a venda. A pedido, os nomes dos usuários e contrabandistas entrevistados são fictícios.
Nos últimos dois anos, Hildo trava uma verdadeira batalha pela sobrevivência. A luta do ex-judoca de 28 anos é contra uma inflamação crônica dos ossos. Os médicos, após exames, chegaram à origem do problema: o uso de esteroides anabolizantes. A intenção de Hildo era melhorar sua performance no esporte, além da estética, por meio do aumento da massa muscular. Um enredo semelhante ao de outras histórias contadas nos bastidores do esporte e das academias de musculação. O fato é que pessoas passaram a encontrar nas bombas – como popularmente são chamados os anabólicos – o caminho mais rápido para melhorar o corpo e os resultados esportivos, sem levar em consideração os danos à saúde, incluindo, o risco de morte.
Os esteroides anabolizantes são drogas sintéticas derivadas da testosterona, hormônio natural ligado ao desenvolvimento das características sexuais masculinas e ao crescimento muscular. Estas drogas foram criadas com fim terapêutico, patenteadas por grandes empresas. A venda é permitida apenas em farmácias e com apresentação do receituário médico. A determinação nem sempre é seguida. Mas a maioria dos anabólicos no mercado negro são pirateados em laboratórios no Paraguai e entram no Brasil clandestinamente.
Os anos 90 marcaram o boom destes produtos no País, nas mais diversas camadas sociais: do segurança do mercadinho de bairro ao empresário malhador. Atualmente, 1,2 milhão de brasileiros admitem usar anabólicos, segundo dados divulgados em março passado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), órgão ligado à Universidade Federal de São Paulo, após pesquisa em 108 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes.
No Nordeste, a pesquisa escutou 1.680 pessoas, dos 12 aos 65 anos, em 22 cidades. Seis eram de Pernambuco: Recife, Jaboatão, Olinda, Paulista, Caruaru e Petrolina. Dos entrevistados, 24 admitiram o uso de esteroides (22 homens e duas mulheres). A maioria (83%) tem entre 18 e 34 anos. “Mas estes números estão minimizando a realidade, o problema é bem maior. O contato que temos com praticantes de atividades físicas nos permite fazer esta afirmação”, garantiu o vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física de Pernambuco (Cref-PE), professor Claudiomar Feitosa.
Os números apresentados pelo Cebrid colocam os esteroides na ponta da lista de drogas com consumo crescente no País, superando maconha, cocaína e crack. Sem dúvida, um dos principais estímulos ao uso desenfreado é a falta de legislação específica para a repressão à venda. Os anabolizantes não figuram na lista nacional de entorpecentes, pois não causam dependência física. Assim, quem comercializa ilegalmente não pode ser enquadrado por tráfico, mas apenas por descaminho, quando não se paga impostos pela comercialização do produto, que prevê penas brandas – na maioria das vezes, multa.
A certeza de impunidade desestimula operações das polícias Federal e Civil, que são responsáveis por subestimar o tamanho do problema. “Temos informações sobre o comércio de anabolizantes, mas não temos como fazer esta investigação agora. Nosso foco neste momento é outro, coisa mais urgente para a sociedade”, disse o chefe do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil em Pernambuco, delegado Luiz Andrei, referindo-se ao chamado tráfico violento, o de crack, cocaína e maconha.
Enquanto os anabolizantes são desconsiderados por autoridades, os usuários subestimam seus riscos. Na maioria das vezes, só percebe os perigos dos esteroides quando é tarde demais. Foi o caso do ex-judoca Hildo. Desde que a doença foi diagnosticada, a orientação é para que ele fique afastado de qualquer atividade física. Nesse período, engordou 25 kg, desenvolveu ginecomastia (crescimento excessivo da glândula mamária do homem) e enfrenta sérios problemas no fígado. “Não tenho medo de morrer. Fiz uma coisa consciente e sabia dos riscos que corria, mas nunca achei que fosse acontecer comigo. Foi o meu pecado capital”, resigna-se.

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